« - Bem sei que podem perseguir-me, arrancar-me os olhos, torcer-me as orelhas, transformar-me em lagarto, em morcego, em aranha, em lacrau! Mas juro que não hei-de ser infeliz PORQUE NÃO QUERO.» [Aventuras de João Sem Medo - Panfleto Mágico em forma de Romance, José Gomes Ferreira] «Fica a saber claramente:não trocaria a minha desgraça pela tua servidão.» [Fala de Prometeu, em Prometeu Agrilhoado, Ésquilo]
quarta-feira, 6 de abril de 2011
POEMA INDIZÍVEL
TRAGO
Trago na mão caneta e papel
Para escrever as palavras que não hão-de ser ditas
Trago na mente as ideias rasgadas
Nos voos nocturnos de sonhos remotos
Trago nas mãos o Nada
Do trabalho arrastado dos dias de Inverno
E os espasmos das horas enganadas
Trago os caminhos na memória esquecida
Em que vi das paisagens o negrume e o ódio
Trago os silêncios amargos
Das conversas nunca encetadas
Trago o Não dos olhares resignados
Dos que perduram
E o luto dos livros queimados
Em que me amortalham.
Trago um gole de vinho acre.
Do solo crestado e estéril
Sem fruto, sem chão, sem vida.
Raquel
31 de Março de 2011