Não, meu amor, não procuro qualquer sentido nestas palavras.
Gosto de ti como uma cãibra e não posso tropeçar na candura do tempo. Há
um entendimento nervoso entre mim e a rua cheia de precipícios. Esta vertigem é
inabalável e os meus membros transpõem o musgo dos muros antes que as palavras
ecoem no vale. Debruço-me e estendo o caminho para o meu grito passar como um eco que abandonei. Se os passos tropeçam, existe o mar num mergulho agasalhado. Depois do pranto, o vento penteia-me os cabelos. Não,
meu amor, é o alvor das geadas que forma sulcos na rocha dos meus dias. Desfaço-me
como uma caixa de cartão na chuva. Se o sangue parar, teremos a eternidade para
desenhar o escárnio do entendimento. Há um riso de amoras amargas e o vento
deixou de cantar. Escuto. Parece que o silêncio se entalou na porta. Sinto o
teu sangue pisado nas olheiras. Intermináveis noites de insónia. Há música por
trás das portas cerradas. Há música a latejar na pulsação dos minutos. Se a lua
se extinguir, como poderás cair sem que te veja? Não, meu amor, este tempo
cheira a torneiras de cobre oxidadas. Se eu te disser muito baixinho que a mesa
se ergue calada a colher vinho vertido com uma cãibra na perna?