A indiferença
Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.
Bertolt Brecht
Dedico este poema a todos os Comunistas, Operários, Sindicalistas e Padres, e aos que o não são.
Aos que por ignorância, preguiça, egoísmo ou uma qualquer des-vontade a que chamaram, indevidamente, rebeldia, se entorpecem na Indiferença e pungem a vida aos ombros de cangalheiros.
Aos outros – os rebeldes, os Prometeus que desafiam o Poder perverso e sofrem, sangram briosos e inabaláveis.
A esses que acreditam, lutam, vibram, amam e constroem enquanto os outros, Indiferentes – resignados, descontentes de vãos-de-escada, servos lambe-gravata, mesquinhos e invejosos, felizes-da-miséria-alheia, desdobráveis, policopiáveis, descartáveis – se vão arrastando como tapetes amarfanhados onde quem quer avançar Tropeça!
Porque outros, ainda outros! hienas famintas se alimentam dos cadáveres abandonados no campo deserto da Indiferença.
Dedico-o também a mim, todos os dias como uma prece.
Raquel
23/03/2011
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