Era uma vez uma janela
De uma casa à beira rio
Toda preta e aveludada
De luto como uma carocha
Não era casa era uma rocha
Era uma vez uma guitarrinha
Que todo o dia cantava
A história da carochinha
Toda preta e aveludada
Um chorinho morno bailava
A formiguinha embriagada
Que o carreiro abandonara
Numa manhã de trovoada
Entrara pela janela
Porque a porta estava trancada
Da casa preta e aveludada
Que era uma gruta encantada
E junto da guitarrinha
Dança, dança formiguinha
Que o carreiro abandonara
Era uma vez uma casinha
Toda preta e aveludada
Dali espreita uma janela
Com portadas escancaradas
Para o alto da colina
Onde acena La Fontaine
À formiga bailadeira
Que da guitarra se abeira
Como quem canta uma fábula:
«A formiga no carreiro
Vinha em sentido contrário
Caiu ao Tejo, caiu ao Tejo...»
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