segunda-feira, 2 de novembro de 2009

(...) E matavam todos os judeus que iam encontrando e despojavam-nos dos seus bens...
- Porquê os judeus? – Perguntei a Salvador.
E ele respondeu-me:
- E porque não?
E explicou-me que toda a vida tinham ouvido os pregadores que os judeus eram os inimigos da cristandade e acumulavam os bens que a eles lhes eram negados. Perguntei-lhe se não era porém verdade que os bens eram acumulados pelos senhores e pelos bispos, através das décimas, e que, portanto, os pastorelli não combatiam os seus verdadeiros inimigos. Respondeu-me que, quando os verdadeiros inimigos são demasiado fortes, é preciso então escolher inimigos mais fracos. Reflecti que, por esse motivo, os simples são assim chamados. Só os poderosos sabem sempre com grande clareza quem são os seus verdadeiros inimigos. [...]
Perguntei quem tinha metido na cabeça à multidão que era preciso atacar os judeus. Salvador não se recordava. Creio que, quando se reúnem tais multidões seguindo uma promessa e pedindo de imediato alguma coisa, nunca se sabe quem fala no meio deles. (...)

O Nome da Rosa, H. Eco