quinta-feira, 28 de junho de 2012


Portugal

Esculpido pelas marés
Porto distante
Que o oceano abraça
Em solidão

A inconstância das ondas
A ilusão da espuma
O abismo das águas fundas

És tu, Portugal
Uma miragem
Um eco, um vento
Uma passagem

Porto de luz
És o cais nocturno
(Onde dormitam os astros)

Improvável
Sem aurora

O amanhã é só uma palavra
Que o mar retalha em espasmos lentos
Uma promessa adiada.

Raquel
28/06/2012

domingo, 17 de junho de 2012


Domingo de manhã. O café da Estrada de Benfica. O homem na última mesa do café, estava como quem lê o jornal em desamor. Era só, na sala contígua à do balcão, e observava em dor os pares, os grupos, as conversas animadas da primeira sala. Observava os sozinhos que, como eu, à pressa, se acercavam do balcão, enquanto simulava ler aquele jornal aberto na estratégica página da solidão. E no seu rosto vincado havia traços de repúdio, abeirado do sofrimento. Em precipício. Dois jovens sugiram, mão na mão, sorrindo, e o homem ocultou-se, impenetrável, por detrás daquele biombo, que na capa dizia «Público».

17/06/2012
Raquel

Domingo de manhã. Estrada de Benfica. Passou um cão igual à dona, presos pela mesma trela; o mesmo olhar, o mesmo andar, a mesma altivez. Mas o cão, que trazia a vantagem de não ser humano, olhou-me como quem cumprimenta.

17/06/2012
Raquel

Domingo de manhã estacionada junto ao vidrão. O homem passou em passo lento com dois sacos de assas, um em cada mão, cheios com garrafas de litro vazias. Olhei para os sacos e fixei-o, sem reparar que ali me ficara o olhar suspenso enquanto os pensamentos me alhearam. O homem com a alma recurvada de ressaca, reparou que o observava e desviou-se, e aos sacos, fugindo à possibilidade da sua bebedeira do dia antes. Ela notava-se num amanhecer em vincos depois da festa, mas o meu olhar estava suspenso, não no dedo que aponta que te embebedaste, mas numa quase nostalgia demasiado lúcida de desejo de uma festa... embriaguez falhada. O som dos vidros estilhaçados no contentor: a música remanescente da véspera. Moral da história: Quando se trabalha aos Domingos, bebe-se a ressaca alheia. Moral da história II: quando não se tem festa há muito tempo, não estacionar junto ao vidrão. Moral da história III: Faça-se Festa!


17/06/2012
Raquel