quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O ESPELHO

Estamos todos suspensos numa mola de ar

Que o vento leva e traz

E a acalmia estanca

A terra emana o seu odor de cio

- O húmus que se altera em desafio.


Os rios em pranto

Sulcam montanhas

E no vale se aplacam

Onde a terra os abraça.


Suspensos

Numa mola de ar

Vemo-nos em gestos e rostos corrompidos

Reflexos de água pura

Nesse ventre

Outros seres procriam.


Raquel C.

20/10/10

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dedicatória

A Morte é o mais amplo de todos os mistérios.

Em primeiro a agonia da impossibilidade de comunicar.

Depois o folhear de recordações.

Por último, alojamos os nossos entes queridos num mesmo lugar (do nosso afecto) de onde nos vêem e ouvem, e para eles, de tempos a tempos, agimos e mostramos com carinho aquilo que gostaríamos que eles soubessem de nós. Pensamos: “isto é para ti”, crentes de que eles ficarão felizes.

E nessa vivência do mundo dos nossos mortos, cada vez mais povoado, vamo-nos acostumando à sua proximidade.

Raquel

14/10/2010