segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ilustração de Sara Franco: Big Ode #6


Poema para ilustração de Sara Franco: Silêncio

Fecha-se a porta
Instala-se o silêncio
Fico.
Estática
Tombada
Na ausência do sofá da sala
O gelo penetra o corpo inerte
No medo antecipado da solidão.
Depois dos gritos e do calor da ira
Fico.
Contra as paredes quietas
Imóvel na estranheza
Da sala sem vida
Um breve instante
Tudo se altera
Se confunde
Se dispersa
Um rasgo de memória
Entrecortado por uma lágrima morna que se solta
Que arde lentamente
Até ao queixo
O cigarro sucumbe no cinzeiro
O fumo sobe
Adia-se o tempo.

Ilustração de Sara Franco para Big Ode #6


Poema para ilustração de Sara Franco: Silêncio

Dói-me o teu silêncio
Berra-me aos ouvidos
Atordoa
Vagueio pela cidade entre a multidão que passa
Como sombras
Ao fundo da cor
O brilho do rio
A bela paisagem eterna
Que o tempo vai compondo...
Um barco anuncia a partida
E todas as partidas se revelam
No som distante que rasga o espaço
A noite é uma recordação
A lua impõe-se antecipando
A hora-do-crepúsculo
Está enorme, bela
Silenciosa, só
Como quem sofre...
De repente o sabor a mar
No infinito cíclico das ondas
Estonteantes
O rio leva até ao mar
Todos os silêncios dos homens
Naufragados
Estas horas sabem a sal
Aqui debaixo do céu imenso
Pesa-me o compasso do silêncio
Pesa-me
Através do recorte geométrico
Da janela.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Antes de partires
Avisa-me
Para que não me despeça.
Quero ser a primeira ausente
da ausência eterna.
Deixa que a tua presença se confunda
Nos derradeiros passos que hei-de dar.
Que as sombras se cruzem
Na noite de luar
Em que procuras o apelo vão
Do ruidoso silêncio da ausência.
São roucas as últimas palavras
Já são ecos
Desfazem-se os caminhos dispersos
E numa brincadeira só
Avisa-me
Para que não me despeça.

ÍTACA

Quando iniciares a tua viagem para Ítaca,
deseja que o teu caminho seja longo,
pleno de aventuras, pleno de ensinamentos.
Os Lestrigones e os Ciclopes,
não os temas, nem a cólera de Posídon,
nunca encontrarás tais seres em teu caminho,
se o teu pensamento for elevado, se um sentimento raro
preencher o teu espírito e o teu corpo.
Os Lestrigones e os Ciclopes,
nunca encontrarás, nem o irascível Posídon,
se não os transportares na tua alma,
se a tua alma não os fizer surgir diante de ti.

Deseja que o teu caminho seja longo.
Que numerosas sejam as manhãs de Verão
em que – com que prazer e que alegria! –
descobrirás portos que nunca tinhas visto;
detém-te nos mercados da Fenícia
para adquirires preciosas mercadorias;
âmbar, coral, ébano, madrepérola,
diversos perfumes deliciosos,
o mais que puderes de voluptuosos perfumes;
visita também muitas cidades egípcias,
e nunca pares de te instruir junto dos sábios.

Mantém sempre Ítaca presente no teu espírito.
Lá chegar é o teu destino final.
Mas sobretudo não apresses a viagem.
O melhor é prolongá-la durante anos;
e chegar à ilha apenas na velhice,
rico com o que terás ganho no caminho,
sem esperares de Ítaca nenhuma outra benesse.

Ítaca ofereceu-te esta bela viagem.
Sem ela, não terias iniciado o teu caminho.
Ela não tem nada mais a oferecer-te.

E mesmo sendo pobre, Ítaca não te enganou.
Rico em sabedoria, com tal experiência,
terás compreendido certamente o que as Ítacas significam.



Constantino Kavafis
1911

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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Caiu uma folha
Uma única folha
Amarela
Recurvada
Dançante
E cloque – soou na calçada
- o Outono.
Caiu uma folha na tarde febril
Sem vento
Morna
Caiu esculpida
E ficou
No passeio que a contorna.