segunda-feira, 10 de novembro de 2008

ÍTACA

Quando iniciares a tua viagem para Ítaca,
deseja que o teu caminho seja longo,
pleno de aventuras, pleno de ensinamentos.
Os Lestrigones e os Ciclopes,
não os temas, nem a cólera de Posídon,
nunca encontrarás tais seres em teu caminho,
se o teu pensamento for elevado, se um sentimento raro
preencher o teu espírito e o teu corpo.
Os Lestrigones e os Ciclopes,
nunca encontrarás, nem o irascível Posídon,
se não os transportares na tua alma,
se a tua alma não os fizer surgir diante de ti.

Deseja que o teu caminho seja longo.
Que numerosas sejam as manhãs de Verão
em que – com que prazer e que alegria! –
descobrirás portos que nunca tinhas visto;
detém-te nos mercados da Fenícia
para adquirires preciosas mercadorias;
âmbar, coral, ébano, madrepérola,
diversos perfumes deliciosos,
o mais que puderes de voluptuosos perfumes;
visita também muitas cidades egípcias,
e nunca pares de te instruir junto dos sábios.

Mantém sempre Ítaca presente no teu espírito.
Lá chegar é o teu destino final.
Mas sobretudo não apresses a viagem.
O melhor é prolongá-la durante anos;
e chegar à ilha apenas na velhice,
rico com o que terás ganho no caminho,
sem esperares de Ítaca nenhuma outra benesse.

Ítaca ofereceu-te esta bela viagem.
Sem ela, não terias iniciado o teu caminho.
Ela não tem nada mais a oferecer-te.

E mesmo sendo pobre, Ítaca não te enganou.
Rico em sabedoria, com tal experiência,
terás compreendido certamente o que as Ítacas significam.



Constantino Kavafis
1911

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