quarta-feira, 6 de abril de 2011

POEMA INDIZÍVEL

Este é o poema indizível
Na garganta esgaçada
Da raiva contida
Da acção amarrada
Das ideias perdidas
Vozes censuradas
Das palavras escritas
Em folhas queimadas
Das cinzas esquecidas
Em alcatrão fervente
Da mão endurecida
Presa na corrente
Do ventre esgotado
Dos filhos perdidos
Do rosto cansado
De olhares aturdidos
Esforços desmentidos
Zelos mutilados
Vontade invisível
É tudo indizível.
Raquel
31 de Março de 2011

TRAGO

Trago na mão caneta e papel

Para escrever as palavras que não hão-de ser ditas


Trago na mente as ideias rasgadas

Nos voos nocturnos de sonhos remotos


Trago nas mãos o Nada

Do trabalho arrastado dos dias de Inverno

E os espasmos das horas enganadas


Trago os caminhos na memória esquecida

Em que vi das paisagens o negrume e o ódio


Trago os silêncios amargos

Das conversas nunca encetadas


Trago o Não dos olhares resignados

Dos que perduram


E o luto dos livros queimados

Em que me amortalham.


Trago um gole de vinho acre.


Do solo crestado e estéril

Sem fruto, sem chão, sem vida.


Raquel

31 de Março de 2011