quarta-feira, 23 de março de 2011


A indiferença


Primeiro levaram os comunistas,

Mas eu não me importei

Porque não era nada comigo.


Em seguida levaram alguns operários,

Mas a mim não me afectou

Porque eu não sou operário.


Depois prenderam os sindicalistas,

Mas eu não me incomodei

Porque nunca fui sindicalista.


Logo a seguir chegou a vez

De alguns padres, mas como

Nunca fui religioso, também não liguei.


Agora levaram-me a mim

E quando percebi,

Já era tarde.

Bertolt Brecht

Dedico este poema a todos os Comunistas, Operários, Sindicalistas e Padres, e aos que o não são.

Aos que por ignorância, preguiça, egoísmo ou uma qualquer des-vontade a que chamaram, indevidamente, rebeldia, se entorpecem na Indiferença e pungem a vida aos ombros de cangalheiros.

Aos outros – os rebeldes, os Prometeus que desafiam o Poder perverso e sofrem, sangram briosos e inabaláveis.

A esses que acreditam, lutam, vibram, amam e constroem enquanto os outros, Indiferentes – resignados, descontentes de vãos-de-escada, servos lambe-gravata, mesquinhos e invejosos, felizes-da-miséria-alheia, desdobráveis, policopiáveis, descartáveis – se vão arrastando como tapetes amarfanhados onde quem quer avançar Tropeça!

Porque outros, ainda outros! hienas famintas se alimentam dos cadáveres abandonados no campo deserto da Indiferença.

Dedico-o também a mim, todos os dias como uma prece.

Raquel

23/03/2011