domingo, 4 de novembro de 2018


Não, meu amor, não procuro qualquer sentido nestas palavras. Gosto de ti como uma cãibra e não posso tropeçar na candura do tempo. Há um entendimento nervoso entre mim e a rua cheia de precipícios. Esta vertigem é inabalável e os meus membros transpõem o musgo dos muros antes que as palavras ecoem no vale. Debruço-me e estendo o caminho para o meu grito passar como um eco que abandonei. Se os passos tropeçam, existe o mar num mergulho agasalhado. Depois do pranto, o vento penteia-me os cabelos. Não, meu amor, é o alvor das geadas que forma sulcos na rocha dos meus dias. Desfaço-me como uma caixa de cartão na chuva. Se o sangue parar, teremos a eternidade para desenhar o escárnio do entendimento. Há um riso de amoras amargas e o vento deixou de cantar. Escuto. Parece que o silêncio se entalou na porta. Sinto o teu sangue pisado nas olheiras. Intermináveis noites de insónia. Há música por trás das portas cerradas. Há música a latejar na pulsação dos minutos. Se a lua se extinguir, como poderás cair sem que te veja? Não, meu amor, este tempo cheira a torneiras de cobre oxidadas. Se eu te disser muito baixinho que a mesa se ergue calada a colher vinho vertido com uma cãibra na perna?

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